Urânio é peça-chave na transição energética, avalia ABPM

Com déficit global de oferta e o avanço da energia nuclear, urânio se consolida como a commodity mais promissora da década. ABPM alerta que o Brasil pode perder espaço se não rever o monopólio estatal e abrir o setor à iniciativa privada.
Por Warley Pereira
A crescente corrida global por fontes estáveis de energia e insumos estratégicos colocou o urânio no centro do debate em 2025. Durante o Seminário Internacional de Energia Nuclear (SIEN), no Rio de Janeiro, o diretor executivo da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa Mineral e Mineração (ABPM), João Luiz Nogueira de Carvalho, afirmou que o mineral vive um novo ciclo de valorização global e que o Brasil precisa rever seu modelo de exploração.
“Pesquisar ouro foi o foco entre 2023 e 2025. Agora, o urânio é o destaque. É a commodity com melhor desempenho de preços na última década”, destacou Carvalho.Atualmente, entre 10% e 14% da energia elétrica produzida no mundo é de fonte nuclear, que por problemas geopolíticos, vem apresentando dificuldades de produção e suprimento em países ocidentais.
Alta de preços e déficit global
Dados apresentados pelo executivo da ABPM mostram que o urânio registrou forte valorização, atingindo US$ 82 por libra em 2025 — um salto de quase 300% em relação a cinco anos atrás, e próximo do pico histórico de US$ 140/lb alcançado em 2007.
A tendência de alta é sustentada por um déficit global projetado entre oferta e demanda, impulsionado pela expansão da energia nuclear. Estima-se que a capacidade instalada mundial triplicará até 2050, o que aumentará ainda mais o desequilíbrio de suprimento.
Mudança no mapa global
O cenário geopolítico também tem alterado o mapa da exploração. “Canadá e Austrália perdem atratividade, enquanto a América Latina ganha espaço”, disse Carvalho, ao citar o aumento de investimentos em países com maior estabilidade regulatória e abertura à mineração privada.
Segundo ele, “não apostar em empresas juniors é a garantia de ficar fora do mercado”, em referência às companhias de pequeno e médio porte que tradicionalmente lideram as descobertas de novas jazidas no mundo.
Para Carvalho, o urânio é peça-chave na transição energética e na meta global de neutralidade de carbono até 2050.
Brasil: potencial travado
Apesar de deter a quinta maior reserva mundial de urânio, o Brasil mantém a produção sob monopólio da União, exercido pela Indústrias Nucleares do Brasil (INB). A Lei 14.514/2022 trouxe avanços na regulamentação do setor, mas, na prática, ainda não permite a entrada de capital privado na exploração e pesquisa, o que, segundo Carvalho, “compromete a realização de investimentos produtivos”.
“O país pode seguir estagnado se não rever o modelo de pesquisa. O governo não fará sozinho os investimentos necessários para descobrir novas jazidas”, alerta
João Luiz Nogueira de Carvalho – Diretor executivo da ABPM
O diretor da ABPM destacou ainda que, embora a arrecadação da CFEM (Compensação Financeira pela Exploração Mineral) reflita a valorização do urânio no mercado internacional, o volume produzido no Brasil é ínfimo diante do potencial geológico existente.
Em 2023, o país exportou apenas US$ 9 milhões em urânio, frente a C$ 1 bilhão do Canadá e A$ 812 milhões da Austrália.
Energia nuclear e transição energética
Para Carvalho, o urânio é peça-chave na transição energética e na meta global de neutralidade de carbono até 2050. “Energia nuclear é descarbonizar. É a única chance real de atingir o Net Zero em 2050”, afirmou, citando o aumento de usinas planejadas e a busca de segurança energética frente à demanda crescente por data centers e inteligência artificial — o tema tem sido abordado também por Larry Fink, CEO da BlackRock, que alertou para o impacto energético da era da IA.
Oportunidade brasileira
A ABPM defende um novo modelo de associação público-privada para destravar áreas hoje sob controle da INB. A proposta prevê joint ventures em que a estatal manteria o direito de compra do urânio em caso de necessidade interna, enquanto as empresas privadas assumiriam a pesquisa, lavra e investimento. “Precisamos revisar já o modelo de pesquisa do urânio”, avalia Carvalho.
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